Encontro do ProSER com o prof. convidado Marcus Zulian no ano de 2016
O fenômeno placebo-nocebo é uma realidade observada em toda prática terapêutica, com seus mecanismos psiconeurofisiológicos estudados e descritos na literatura médica e científica. Por ser um aspecto inerente ao cuidado em saúde, deveria ser conhecido por todos os profissionais da saúde que se dedicam à prática e à pesquisa clínica.
De forma generalizada, entende-se efeito ou resposta placebo como a melhoria dos sintomas e/ou funções fisiológicas do indivíduo em resposta a fatores supostamente não específicos e aparentemente inertes (sugestão verbal ou visual, comprimidos inertes, injeção de soro fisiológico e cirurgia fictícia, dentre outros), sendo atribuível, comumente, ao simbolismo que o tratamento exerce na expectativa positiva do paciente.
Por sua vez, efeito nocebo é um fenômeno oposto, em que a antecipação e a expectativa por um resultado negativo podem conduzir à agravação de um sintoma ou doença. Exemplos naturais de efeito nocebo podem ser observados no impacto de diagnósticos negativos e na desconfiança do paciente pela equipe de saúde ou por algum tipo tratamento, tendo seus mecanismos psiconeurofisiológicos estudados de forma análoga ao efeito placebo.
Os diversos fatores envolvidos na relação terapeuta-paciente, do acolhimento ao teor específico das declarações feitas pelo profissional da saúde, influenciando a expectativa consciente do paciente por uma melhora ou piora do quadro clínico, podem desencadear efeitos significativos no desfecho de qualquer tratamento, farmacológico ou não, alterando a atividade de determinadas regiões cerebrais e a liberação de neurotransmissores específicos. Por outro lado, o condicionamento inconsciente pode despertar uma resposta placebo ou nocebo após a experiência de uma mesma intervenção terapêutica pregressa efetiva ou não, respectivamente.
Unindo as teorias da expectativa consciente e do condicionamento inconsciente, as pesquisas sugerem que a postura do terapeuta, permeada por manifestações positivas ou negativas (comentários, sugestões e atitudes), pode exercer influências semelhantes no psiquismo dos enfermos, desencadeando respostas neurofisiológicas favoráveis ou desfavoráveis, atuando como instrumento terapêutico ou iatrogênico, respectivamente.
Referências
[1] Teixeira MZ. Ensaio clínico quali-quantitativo para avaliar a eficácia e a efetividade do tratamento homeopático individualizado na rinite alérgica perene [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2009. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5159/tde-10062009-102220/pt-br.php. [2] Teixeira MZ. Bases psiconeurofisiológicas do fenômeno placebo-nocebo: evidências científicas que valorizam a humanização da relação médico-paciente. Revista da Associação Médico Brasileira. 2009; 55(1): 13-18. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n1/v55n1a08.pdf. [3] Teixeira MZ, Guedes CH, Barreto PV, Martins MA. The placebo effect and homeopathy. Homeopathy. 2010; 99(2): 119-129. Disponível em:http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20471615. [4] Teixeira MZ. Fenômeno placebo-nocebo: evidências psiconeurofisiológicas. ComCiência. 2013; 153: 1-4. Disponível em: http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-76542013000900009&lng=pt&nrm=iso
Prof. Dr. Marcus Zulian Teixeira
http://www.homeozulian.med.br
Sobre o Prof. Marcus Zulian
Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ-USP (1981), graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP, 1991), especialização em medicina homeopática pela Associação Paulista de Homeopatia (APH, 1992-1994), doutorado em Medicina (Ciências Médicas – Processos Inflamatórios e Alérgicos, FMUSP, 2005-2009) e pós-doutorado (Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, FMUSP, 2014-2017). Médico especialista em homeopatia pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Médica Brasileira (1995). Professor e coordenador da disciplina optativa Fundamentos da Homeopatia (MCM0773) da FMUSP desde 2003. Atua na área de Medicina, com ênfase em Homeopatia.